Filme de 2018 surpreendeu muita gente por forte terror psicológico
Por Cotidiano Alagoas
“Hereditário” (2018), dirigido por Ari Aster, é um filme de terror psicológico que marcou uma nova era no gênero, distanciando-se das fórmulas típicas de sustos fáceis para oferecer uma experiência de terror mais densa, complexa e perturbadora. O longa, protagonizado por Toni Collette, Gabriel Byrne, Alex Wolff e Milly Shapiro, conta a história de uma família mergulhada em um ciclo de tragédias, que gradualmente revela raízes ocultas em forças sobrenaturais e manipulações ancestrais.
O filme começa de forma sombria com o funeral da matriarca Ellen, já estabelecendo uma atmosfera de mistério ao redor da família Graham. Annie (Toni Collette), sua filha, demonstra uma relação tensa e ambivalente com a falecida mãe, o que imediatamente planta uma semente de desconforto no espectador. A partir desse ponto, Aster constrói meticulosamente uma tensão crescente, com cenas carregadas de simbolismos e presságios que apontam para algo terrivelmente errado. A mansão isolada e o uso magistral da iluminação, com sombras que parecem tomar vida própria, contribuem para um crescente sentimento de claustrofobia.
A performance de Toni Collette é o coração do filme. Ela entrega uma interpretação avassaladora como Annie, uma mulher atormentada pela perda e pelo peso de uma herança familiar carregada de segredos sombrios. O seu desespero se manifesta de maneira visceral, especialmente na icônica cena do jantar, onde ela confronta seu filho Peter (Alex Wolff) em um momento de puro colapso emocional. Collette é capaz de transmitir uma gama de emoções complexas, de dor e culpa a terror e raiva, que transformam seu desempenho em uma das melhores de sua carreira.
Ari Aster é mestre em manipular a tensão através do uso de uma narrativa lenta e meticulosa. Ele evita os sustos tradicionais e opta por construir o horror através do suspense psicológico, deixando o espectador constantemente à beira do pânico. Pequenos detalhes visuais, como miniaturas que Annie constrói, replicando eventos da vida real, adicionam uma camada extra de desconforto, sugerindo que algo mais sinistro está controlando os destinos da família. A trama se desenrola como um quebra-cabeça, com pistas sendo reveladas lentamente até que o terror atinge seu ápice.
O filme é também uma reflexão profunda sobre o luto e as dinâmicas familiares. À medida que a narrativa avança, torna-se claro que a dor da família Graham não se deve apenas à morte e às tragédias recentes, mas a uma linhagem de traumas passados, herdados como uma maldição. Essa exploração da herança emocional e psicológica é um dos aspectos mais fascinantes de “Hereditário”, adicionando uma dimensão trágica à história. O terror, aqui, não vem apenas do sobrenatural, mas das feridas que a família inflige sobre si mesma.
Um dos elementos mais discutidos do filme é o seu terceiro ato, quando o sobrenatural finalmente se revela por completo. Para alguns espectadores, essa transição abrupta de um horror psicológico para um terror mais explícito pode parecer desorientadora. No entanto, é importante lembrar que o título do filme sugere exatamente isso: a herança de algo além da compreensão, uma força inescapável que molda o destino da família. O final, com sua revelação chocante sobre o culto demoníaco e o papel de Peter nesse ritual macabro, pode ser divisivo, mas é inegavelmente impactante.
A trilha sonora de Colin Stetson complementa perfeitamente o clima do filme, com uma mistura de sons graves e ameaçadores que amplificam a sensação de perigo iminente. O uso do silêncio também é estratégico, muitas vezes mais assustador do que qualquer música ou efeito sonoro, deixando o espectador à mercê de seus próprios medos.
“Hereditário” não é apenas um filme de terror; é uma experiência de angústia psicológica. A maneira como o filme aborda temas como saúde mental, culpa, e a relação entre mães e filhos dá profundidade à narrativa, diferenciando-o de outros títulos do gênero. A direção precisa de Aster, aliada às performances impecáveis do elenco, transforma “Hereditário” em uma obra que permanece com o espectador muito tempo após os créditos finais.
Em suma, “Hereditário” é uma joia perturbadora no gênero do terror. Não é um filme fácil de assistir, pois exige do espectador uma imersão completa no pesadelo de sua narrativa, mas é precisamente essa imersão que o torna tão eficaz. Para aqueles que apreciam um terror que mexe com a mente e os nervos, sem depender de clichês, este filme é uma obra-prima que estabelece Ari Aster como uma das vozes mais importantes do cinema de terror contemporâneo.
Veredito: 9/10.
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